quinta-feira, maio 20, 2010

Jornalismo móvel

Eduardo Natário
O jornalista de hoje precisa conhecer as mídias sociais e a navegação web no meio digital para ter o seu lugar garantido. Por enquanto, as mudanças na forma de fazer jornalismo foram apenas técnicas. O paradigma de adaptação automática de ‘web desktop’ para ‘web mobile’ já existe, com adequação automática do layout do site às telas de menor tamanho dos celulares, mas seu uso ainda é restrito e não é padrão dos grandes portais online nacionais.

O suporte da leitura está mudando, seja para telefones 3G com tela pequena, para e-books ou iPad. A maneira de produzir conteúdo jornalístico é que deve se manter a mesma, com apuração, checagem e investigação, que atualmente também podem ser feitas pelo sistema de registro de domínios como: whois, registro.br, registros de log, IPs, logs de conexão e rastros deixados pelas ‘pegadas digitais’ de pessoas e empresas.

O jornalista não pode esquecer dos princípios da reportagem em ouvir os dois lados, tentar ao máximo chegar perto da isenção no tratamento dos fatos, e ter em mente que ‘o cliente do jornalista é a população’. Para manter a credibilidade, ele precisa gerar e levar informações confiáveis para a população, com qualidade, relevância, pertinência e que seja de interesse público.

Mesmo porque os veículos de mídia tradicional que possuem presença na web – como sites de jornais impressos, revistas e páginas de emissoras de televisão – ganharam milhares de concorrentes: as pessoas. Na web 2.0, tanto no celular quanto no computador de mesa, as pessoas começaram a ter espaço para publicar seus conteúdos e opiniões ‘ajudando’ a compor as reportagens.

Assim, podemos dizer que todos na web 2.0 podem ter o equivalente a uma emissora de TV, rádio, jornal, revista e demais meios de comunicação multimídia on-line, mas esses recursos e possibilidades de veiculação, que utilizam o celular como plataforma, estão nas mãos de qualquer pessoa, mas só se justificam e tomam vulto se houver conteúdo pertinente. Com isso, notamos que o ‘leitor de conteúdo’ está se transformando paulatinamente em ‘produtor de conteúdo’.

Outra mudança no ambiente digital foi na maneira pela qual o usuário recebe as informações criadas pelo jornalista. O celular é usado para falar com outras pessoas em um tipo de comunicação ‘um para um’, ou seja, um tipo de comunicação personalizada. Diferente dos meios de comunicação tradicionais que utilizam do conceito ‘um para todos’, ressaltamos que o celular não foi desenhado para ser um Meio de Comunicação de Massa (MCM).

Sabendo disso, os jornalistas devem pensar em formas de entregar conteúdo com algum tipo de personalização para os usuários, que de ‘fishing’ (usuário que busca a informação digitando o endereço em um browser) passaram para ‘push’ (informações chegam até ele por canais escolhidos, por meio do RSS, feeds do facebook, twitter ou pelos widgets das barras presentes no desktop do PC).

O leitor busca e produz conteúdo personalizado para atualizar-se sobre determinado assunto, como ‘quem foi o eliminado do Big Brother?’ (por meio do celular), ler uma informação ‘encomendada’ de determinado site de serviço que seja entregue diariamente (como seu signo por SMS), notícias sobre o time de futebol que a pessoa torce, matérias sobre determinado tipo de pet (se a pessoa possui algum animal de estimação), ou ainda informar aos seus seguidores do Twitter, por geolocalização, que está em determinado lugar (um bar, por exemplo).

No surgimento do jornal impresso a linguagem predominante dos jornais era a linguagem literária (inspirada no livro), e só depois surgiram as técnicas de lead, pirâmide invertida etc.. Assim imagino que veremos muitos testes com as novas maneiras de apresentação da notícia nos meios digitais, e muito em breve veremos conteúdos totalmente adaptados para essas mídias. Por isso, aconselho aos jornalistas usar as mídias sociais e móveis para compreendê-las, e assim entender como produzir e pensar conteúdos direcionados e personalizados.

A adaptação do repórter e editor a essa nova realidade da comunicação, unida aos conceitos tradicionais de produção e apuração de notícias é muito importante, inclusive para a ‘competição de conteúdos’ entre ‘conteúdo dos veículos’ e ‘conteúdo gerado pelos usuários’.

(*) Eduardo Natário é Jornalista, Mestre em Comunicação com ênfase em TV Interativa, especialista em Teoria da Comunicação, com passagem por várias mídias, e professor de jornalismo e publicidade da Universidade Nove de Julho (UNINOVE).

- Texto publicado em abril de 2010 no Portal Comunique-se

2 comentários:

Thaís M.- h.e.r.o.i.n.a disse...

Olá professor, sou sua nova aluna de Comunicação e Novas tecnologias na vergeiro. estou seguindo seu blog.

beijo.

Josimara disse...

É bem isso mesmo. O problema é que com toda essa interatividade e cada vez de forma mais rápida a busca pelo furo torna-se incansável e, muitas vezes a barrigada sai na frente! Ótimo texto para refletir o jornalismo atual.